Ao mesmo tempo em que vem claramente se expandindo, o cinema nacional insiste em seguir a irritante tendência norte-americana das comédias românticas. Basta que um ator ou atriz esteja em alta para que seja convidado a protagonizar algum romancezinho barato, que tenha uma ou outra característica de nosso belo país, para temperar melhor sua já batida história e, assim, tentar ganhar o público e levá-lo ao cinema. A fórmula geralmente funciona, afinal, o brasileiro já provou que está com sede de produções nacionais, mas nem sempre os filmes são merecedores do público que têm.
Tendo isso em mente, foi com certo receio que fui assistir à Mais uma vez Amor, longa baseado na peça homônima de grande sucesso, dirigido pela própria Rosane Svartman, uma das autoras da obra de origem – e que também escreveu alguns outros sucessos, como Confissões de Adolescente. Só que, ao contrário do que esperava, deparei-me com uma obra leve e divertida, de situações realmente engraçadas e que aproveita ao máximo o carisma de seus protagonistas. Cheguei achando que fosse assistir a uma bomba, mas saí bastante satisfeito do cinema.
Assim como o título sugere, este é realmente mais um filme sobre esse tema já tão explorado nas telas, palcos e literatura. Só que o fato de assumir isso contribui para que a gente sente na poltrona e relaxe na história do casal Lia (Juliana Paes) e Rodrigo (Dan Stulbach), duas pessoas completamente diferentes que vivem um caso de amor que já dura 25 anos, mas que nunca conseguiram ficar necessariamente juntos. Seu caso é visto desde quando eram jovens, ainda no colegial, até suas fases mais maduras, com emprego e famílias formadas.
Dan Stulbach e Juliana Paes são dois atores que estão em alta no Brasil e, sinceramente, fica difícil imaginar que a química entre eles funcione tão bem. A diferença entre os personagens que o roteiro propõe acaba transparecendo naturalmente entre os dois. Temos um Rodrigo bastante desajeitado, com filho e tudo, ainda sufocado com a pesada rotina estressante do dia-a-dia no trabalho, mas que não abre mão de se encontrar, todo ano, com a sensual e porra-louca Lia, testemunhados pela bela paisagem das pedras do Arpoador.
Paulo Nigro e Juliana Vasconcellos interpretam o casal em sua fase jovem e, diga-se de passagem, com extrema competência. A mesma química presente nos atores mais velhos se repete nos mais novos com uma naturalidade incrível, graças a uma boa preparação de personagens feita pela equipe e ao talento dos envolvidos. Paulo até que se parece com Dan, porém não tem o mesmo jeitão desajeitado, o que poderia ser um grande problema se ele não tirasse de letra a diferença, já que ele está mais para o galã que fazia em Malhação. A Juliana mais nova também passou pela mesma prova de fogo, já que teve de captar a essência sensual de sua xará mais famosa – e, mais uma vez, o resultado é incrivelmente positivo.
Essa interação é importante, já que ficaria difícil embarcar na história caso não conseguíssemos ver os atores mais velhos no lugar dos mais jovens. Chego a arriscar dizer que Paulo Nigro e Juliana Vasconcellos poderiam até mesmo ter ficado uma parte maior do tempo em cena, já que ficou extremamente forçado o pulo temporal que o filme deu. Assim que termina a participação dos dois jovens talentos, passa-se apenas seis anos entre os acontecimentos do filme e já temos Juliana Paes e Dan em tela, do mesmo jeito que os conhecemos, sem tirar nem por uma maquiagem sequer. Isso incomoda, afinal, como eles poderiam ter envelhecido tanto em um espaço tão curto de tempo? Faltou ousadia em manter os jovens, apenas envelhecendo-os um pouco. Até porque, quando se passam 20 anos de Juliana e Dan na tela, eles continuam exatamente como estavam no início de sua participação no filme. Será que ela terá o mesmo corpão daqui a 20 anos na vida real também?
Há também um certo esforço do roteiro no final para deixar tudo mais bonitinho, caindo na armadilha da história piegas. Os personagens secundários são mal aproveitados e parecem mais uma desculpa para se reunir um grande elenco global e, assim, tentar atrair mais gente ao cinema. Erik Marmo até que está bem, por exemplo, mas se o seu personagem não existisse não faria a menor diferença. Isso se repete a toda uma grande gama de atores, que parecem estar lá simplesmente para deixar tudo mais polido, o que incomoda. Me arrisco a dizer que os atores globais são o tênis All Star de Will Smith em Eu, Robô.
Tudo poderia ficar extremamente insuportável caso o filme não fosse realmente bom. As situações farão todas as pessoas rolarem de rir no cinema por serem completamente verossímeis e colocar os personagens em posições extremamente chatas – o que é bom, devido às excelentes já comentadas interpretações. Como brasileiro gosta de se divertir, e esse filme sai-se bem nesse sentido, duvido que as pessoas liguem para os pequenos erros do filme.
Assim como seu irmão gêmeo dos palcos, não há dúvidas de que será um sucesso, porque Mais uma vez Amor não esconde, em momento algum, de que quer apenas divertir seu público. Juliana Paes confirma todo o seu carisma de ser uma das maiores musas da atualidade em algumas seqüências hilárias, e Dan Stulbach aparece como uma deliciosa surpresa. Talvez, se não fossem eles, o filme não seria o mesmo. Afinal, diversão descompromissada pode funcionar nos palcos, por melhor que seja sua história, mas na tela, é muito mais difícil. E aí está todo o mérito de Mais uma vez Amor. É simples, sem pretensões e carismático.
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