Revista Isto é Gente Edição:535 12/2009
Você começou Caminho das Índias com críticas negativas, mas virou o jogo. Qual é a sensação?
É a sensação do dever cumprido. Todo profissional sabe quando atinge uma maturidade, você sabe o que pode oferecer e o que aquele trabalho pode agregar, mas precisa de oportunidade. Sucesso mistura isso, talento e oportunidade. A minha sensação é a de gratidão a todas as pessoas que acreditaram que eu podia fazer. Depois que a gente consegue provar que pode e mostra isso para as pessoas que acreditavam, e também para aquelas que não acreditavam, é um grande barato, uma sensação muito boa.
Você estava segura para fazer sua primeira protagonista?
Sim, estava segura. Eu sabia que existiam muitas dúvidas, até da tal da "crítica especializada". Eu sabia que teria que vencer uma barreira a mais, que eu ia ter que trabalhar dobrado e que teria que ser mais do que boa: precisava ser surpreendente. Essa era a responsabilidade que eu tinha nas costas.
Considera seu trabalho em Caminho das Índias uma vitória?
É uma vitória, sim. É tão complicado você galgar degraus começando do primeiro. Alguns nomes já começaram pulando algumas casas do tabuleiro. Eu, Juliana, comecei da primeira casinha. Eu fiz elenco de apoio antes de fazer meu primeiro personagem em Laços de Família, que foi o que me abriu portas, mas antes disso eu fui galgando degraus, comendo pelas beiradas mesmo. Esse é um caminho seguro, mas, com certeza, não é o mais fácil. Você encontra muita resistência. Quando falo que me sentia segura ao fazer a protagonista de Caminho é porque eu já tinha vivenciado muita coisa até chegar ali.
Nessa sua trajetória a beleza chegou a ser um obstáculo até você ter seu talento reconhecido?
O obstáculo é sempre esse! É muito complicado esse meu jeito de ser, muita vezes as pessoas confundem. Eu acho que faz parte da maturidade você mostrar que é boa, mas não é boba. Eu nunca fui boba, eu sempre fui uma menina megaestudiosa, eu era nota A na escola, mas estes atributos ficaram sempre em segundo plano. É difícil você ser notada pela inteligência e por outros atributos que não os observados à primeira vista. Este é o principal obstáculo, não tenha dúvida. É como se a dádiva da beleza já fosse o suficiente. As pessoas pensam: não é possível que ela seja bonita, inteligente e boa atriz. E para provar que é possível, você pena um pouco, sim, você tem que provar por A mais B nas suas atitudes e, no meu caso, levou um tempo, mas levou o tempo certo.
É que, de certa maneira, sua imagem sempre esteve atrelada à de sex symbol...
A beleza e a sensualidade são inerentes, as pessoas não escolhem. Eu nunca fui de fazer tipo, as pessoas que me conhecem sabem disso. A minha espontaneidade é a minha grande característica, mais do que minha sensualidade. Eu não acordo me achando sensual ou bonita. Acho que você acaba sendo rotulada com uma série de características. Vão te colocando em uma prateleira e não culpo ninguém por isso.
Falando em como as pessoas a veem, sua imagem passou por muitas mudanças durante esse tempo. Foi planejado?
Não sei se foi uma estratégia, um xadrez tão consciente. Aos poucos a gente vai entendendo o retorno de cada gesto que a gente faz, até na maneira como você se comporta em público com o seu marido. Eu fui começando a entender que cada atitude minha tinha uma consequência. Acho que quanto mais discreta você fica diante de sua vida pessoal, ou da maneira como você se comporta em público, mais as pessoas param de prestar atenção. Essa malícia eu não tinha antes. Eu achava que era perfeitamente possível eu ser boa atriz e desfilar no Carnaval. Na minha cabeça realmente uma coisa não se misturava com a outra.
Por isso decidiu parar de desfilar?
Eu tive que abrir mão de algumas coisas para atingir este ponto onde estou. Não foi uma coisa que decidi numa reunião na qual bati na mesa dizendo "agora acabou tudo". Eu sou apaixonada por Carnaval. Mas quando comecei a perceber que aquilo era um desfile de corpos, para ver quem estava mais sarada, eu vi que estava me posicionando de uma maneira que não é meu objetivo. Por mais que na minha cabeça seja diferente, a maneira como é vista é outra. A vida é feita de ciclos. É preciso saber sair fora e, às vezes, a hora de sair fora é muito difícil porque você está muito embalada, porque todo mundo gosta, todo mundo diz que sente falta de você fazendo aquilo. Mas você para e pensa: caramba! O que eu preciso fazer para alcançar alguns objetivos? É preciso priorizar outras coisas.
Caminho das Índias acaba de conquistar o Emmy de melhor telenovela. Acha que isso lhe dará mais projeção para uma carreira internacional?
Eu não tenho esse objetivo, essa necessidade de uma carreira internacional. Como todo ator, o que eu quero é fazer bons papéis, seja aqui, seja nos Estados Unidos ou seja em qualquer outro lugar do mundo. Tenho uma agente lá fora que, às vezes, me manda alguns projetos. Se pintar alguma coisa bacana, um teste legal e eu estiver disponível, vou fazer. Mas não tenho pretensões de me mudar para os Estados Unidos.
E quais são os planos agora?
Gostaria de fazer cinema. Tem um projeto bacana para o segundo semestre do ano que vem, mas eu gosto muito de fazer tevê. Não faço para galgar outras coisas, televisão é mesmo a minha escola, onde aprendi a fazer muita coisa. Fiz teatro e tenho vontade de repetir a dose, gosto de diversificar, aprender. Recebi projetos muito legais, mas não quero me comprometer para o primeiro semestre de 2010. De alguma maneira pretendo ficar mais discreta. Estou precisando de uns meses para cuidar da vida pessoal que está uma bagunça, dar um pouco de atenção para os amigos, para a família, para minha casa, para o meu marido. Estou sentindo essa necessidade.
E nesses seus planos para 2010 existe o "item" maternidade?
Talvez sim, talvez não... Vou ficar bem em cima do muro em relação a isso. Acho que 30 anos é uma idade ideal, mas talvez não seja a idade ideal para mim.
Fonte:Isto é
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